Há muito de tristeza no caso da menina Isabella Nardoni. Há a tristeza pura e simples de ver uma criança no início de sua vida ser brutalmente assassinada, jogada janela abaixo. Quanta brutalidade, que insensibilidade! Escandaliza-nos ainda mais o fato de ser uma criança que, como tal, necessita de proteção e carinho dos adultos.
Há, no entanto, dois outros aspectos que muito me têm decepcionado e entristecido em toda esta história. Primeiramente o papel de certa mídia. Ansiosa por notícias, pelo espetacular, que não hesita em instrumentalizar a dor e a miséria dos outros. Tenho visto às vezes o programa do apresentador José Luiz Datena. É tremendo, é hipócrita, é imoral! Fala-se em Isabella em tons dramáticos destemperados e, tome comercial: compre um toca-discos; mostra-se indignação e julga-se todo mundo e, tome mais comercial: compre este celular que dança, assobia, e fotografa a via-láctea... O importante não é a verdade serena, transparente, sóbria; o que interessa não é refletir com calma sobre o acontecido para tentar melhor compreender o ser humano. Nada disso! É o “espetaculoso”, o grotesco, o que dá audiência, nem que para isso se pise a dignidade das pessoas e se passe por cima de sentimentos e dramas.
Depois, houve a triste cena da prisão do pai e da madrasta da menina: as pessoas na rua pulando de alegria. Quanta pobreza humana, quanta superficialidade, quanta incapacidade de compreender! Ainda que aqueles dois sejam culpados, não deveríamos nos alegrar com a miséria de ninguém! Somos tão diferentes, mas também somos tão iguais: vindos da mesma fábrica, feitos da mesma matéria, feridos das mesmas feridas!
Certo, que o mal deve ser combatido; certo, que culpados devem ser punidos. Mas, em cada culpado está um pouquinho de cada um de nós, em cada maldade aparece um pouco do mal que corrói nosso coração. Em certo sentido eu sou uma partezinha dos culpados e os culpados são uma partezinha de mim. Quando descobrimos isso, tornamo-nos mais humildes, menos hipócritas e mais cuidadosos em observar e combater o mal que ronda nosso coração.
Pelo pai e a madrasta de Isabella, pelos deputados da Taturana, pelos que matam e pelos que morrem, pelos que fazem da notícia uma hipocrisia, pelos que se aproveitam da dor dos outros para comemorar, pelos que olhando as feridas alheias se esquecem das suas, por mim, membro dessa humanidade tão bela e tão feia, eu peço, com humildade e tristeza: Senhor, tende piedade de nós!
CÔNEGO HENRIQUE SOARES * É sacerdote e professor de Teologia em Maceiá AL
terça-feira, 20 de maio de 2008
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