segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Pena de Morte



CONTO

Tudo preparado para a execução do pobre condenado...
Morte por enforcamento. Patíbulo devidamente decorado. Cordas “no jeito”, laço já no contorno do pescoço do infeliz cristão.
A praça repleta de gente. De gente curiosa. Buliçosa. Nervosa. Platéia enorme, mas caladíssima. No ar, uma pesada sensação de tragédia. De morte! Postado ao lado do desditoso réu, o carrasco. Hirto. Ereto, como que pregado ao chão. Estático. Ali, tal qual estátua viva. Silente. Sombrio. Tenebroso autômato escondido por detrás de uma tenebrosa máscara negra!
Eis que se aproxima, enfim, o momento angustioso e crucial do cumprimento da pena.
Os sons cortantes da corneta abalam terrivelmente os nervos da massa ignara. Rufam os tambores!... A platéia agora solta um grande e abafado gemido. Uma ruidosa interjeição de espanto, um combinado de apreensão e pavor. Uma avalanche de vozes imprecisas e em surdina.
Rufam novamente os tambores! O réu se estremece!
Tensão. A platéia se mexe, se agita mais e mais. Murmura bastante. Em meio à aglomeração, o burburinho se intensifica. O riso e o choro se misturam. Há os que batem palmas e gritam impropérios. Só poucos permanecem como se indiferentes. Alguns se benzem. Outros rogam pragas. Muitos rezam, contritos..
De retorno, chega o capelão... Traz um enorme crucifixo de metal dourado, que - seguro por ambas as mãos - exibe ao povo, girando-o 180 graus, repetidamente, direcionando-o com lentidão para facilitar a visão de todos em cada canto da praça.
O religioso chegou sisudo, sombrio. No cadafalso, dirige-se mais uma vez ao sentenciado (pois já lhe ouvira, há pouco, o pedido do último desejo). Veio trazendo a resposta à última súplica condenado. Agora o padre está de volta para, enfim, comunicar-lhe a notícia. E, sem cerimônia, o religioso não se faz de rogado: vai logo, de chofre, dizendo ao desgraçado réu:
- Meu filho, conforte-se!... Infelizmente não foi possível atender a sua súplica derradeira, o seu último desejo. O seu pedido de atendimento da sua última vontade... foi negado pelo tribunal... Assim, meu irmão, profundamente pesaroso, comunico-lhe que não será viável enforcar, no seu lugar, o seu advogado de defesa...
E foi aí que o capelão piscou o olho pro Máscara Negra... (Escreveu Manoel Patrício de Aquino)

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