A oiticica, gigantesca árvore nordestina que beirava os rios e se prolifera nas proximidades das terras úmidas, é hoje uma raridade, foi praticamente dizimada do cenário sertanejo pelo corte do machado. A oiticica teve sua grande utilidade na economia roceira, tanto pelo seu fruto oleaginoso de grande valor comercial como pela sua grossa e espessa folhagem, verde e sombrosa.
A oiticica foi descrita pelo escritor e médico João Otaviano Lobo, figura notável nas letras, na medicina e no serviço público. Nascido em Santa Quitéria no Norte do Estado nos idos de 1892. Morreu em 1962 deixando significativos trabalhos intelectuais e de medicina.
A Oiticica
Na coroa dos rios, esgalhada em ramos pesados, a oiticica é uma tenda suspensa, no azul.
Uma fartura de sombras.
Entre suas folhagens, o vento cicia cochichos de reza.
As lianas, os cipós se lhe enroscam ao trono, à fronde e desfiam com lágrimas de vela.
Parece uma nódoa verde da inundação da luz.
Debaixo de sua copa, malham bois dormentes, cabritos de orelhas acesas, cordeiros enjeitados. Às vezes, rasga a monotonia da penumbra e clareia luminosa de uma rede. É a sesta de alguns arrieiros fatigado do caminho...
Em torno, a caatinga se desenha tão sem vida, de garranchos ressequidos, como uma flora esquisita de raízes para cima!
O sol tine. O ar treme.
Os mandacarus, de pé, ardem ao sol, na chama de seus frutos vermelhos.
E a cigarra – garganta metálica – estridula tão alto, como aviso de válvula no mormaço do sertão.
Cor de tijolo, um gavião espia de cima de um galho seco de aroeira, trágico e só.
Depois vem o crepúsculo enfeitando de cores e a noite, de crepe.
Se alguém, rompendo o escuro, passa debaixo de alguma oiticica, sente arrepios de medo, pavor de visagem e assombrações de almas do outro mundo.
terça-feira, 20 de novembro de 2007
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