segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Falta sal no Brasil

Lendo o Diário do Nordeste de 8 de julho último deparei-me com um artigo – "Que país é este" – de autoria do jornalista Rangel Cavalcante que me levou, ato contínuo, a traçar as presentes considerações. Enumera o articulista em vinte e três linhas a triste situação em que se encontra o nosso País enlameado em profundo lodaçal. E vei-me à mente aquela interessante alocução do Padre Antônio Vieira – claro que não me refiro ao apreciado autor cearense do - "Jumento Nosso Irmão" - mas ao grande orador sacro português, alocução que calha como uma luva à triste situação em que se encontra o nosso País. Disse ele:
"Vós, disse Cristo Redentor Nosso. Falando com os pregadores, sois o sal da terra: e chamo-lhes sal da terra, porque quero que façam o que fez o sal. A efeito do sal é impedir a corrução, mas quando a terra se vê tão corruta como está a nossa, havendo tantos nela que tem ofício do sal, qual será ou pode ser a causa dessa corrução? Ou é porque o sal não salga ou porque a terra se não deixa salgar."
E continua o clássico da nossa língua a apontar os males que estavam corrompendo a terra e quais os que deviam fazer a vez do sal impedindo a corrução.
Os que deviam fazer ofício de sal no Brasil de hoje combatendo a degradação em que estão se abismando os poderes públicos são os representantes do povo, mas estes, com raras, raríssimas exceções, estão cuidando mais de seus próprios interesses, no jogo estratégico das mudanças de partido e outros jogos mais indecorosos ainda, os quais lhes asseguram a continuidade nos rendosos postos de comando e de representação.
Promovem-se CPIs e mais CPIs que apuram todas as falcatruas, bem como os seus autores, tudo afinal, sem a necessária correção. E a impunidade é a geratriz da continuidade criminosa...
Certo deputado não se envergonhou de declarar a imprensa, diante da acusação que se lhes fazia de desonestidade, que se quisesse roubar falo-ia no seu estado e não em Brasília, onde a "concorrência", acrescentou, é muito maior. Isto significa dizer que a Capital Federal situa-se o maior antro de corrução.
Onde encontrar o sal para essa podridão?
Dolorosa interrogação.
E esta degenerescência vem de longe, pois o velho Rui Barbosa já dizia:
"De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantar-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto.
Escreveu Raimundo de Oliveira Borges

Sem comentários: