domingo, 20 de janeiro de 2008

Cercado de água Cariri morre de sede

No meado do século passado o Cariri clamava do Governo Federal água, através da construção de açudes, para irrigar suas terras e desenvolver a agricultura em todos os seus vales. Hoje o clamor é por água para abastecer suas cidades que, com sacrifícios, consomem água captada de poços profundos, cara, insalubre, de qualidade duvidosa, e seu povo mata a sede com a caríssima água mineral.
Nesse tempo, de 1946 a 1970, o Cariri teve no então deputado federal Antonio de Alencar Araripe seu intransigente defensor. Nos doze anos de parlamento, a partir de 1946, se dedicou a lutar pelos problemas deixados pelas sucessivas secas que assolavam o Nordeste. Propugnou pela construção de açudes aos milhares, barrando todos os rios e riachos da região. Juntou feixes de estudos, planos e projetos que levou ao Congresso Nacional querendo água para o Nordeste. Entre suas prioridades estava o açude do Latão, no município de Santana do Cariri, barrando o Carius, caudaloso rio, importante afluente do Jaguaribe, que acumularia 50 milhões de metros cúbicos de água para irrigar todo o Vale do Carius, e, através da interligação de bacias, serviria também para tornar úmidas as terras do Vale dos Carás e abastecer as cidades de Nova Olinda, Farias Brito, Crato, Juazeiro, Barbalha e até Missão Velha. O açude do Latão teve seus estudos, projetos e orçamento aprovados em 1951, e suas obras iniciadas para serem interrompidas cinco anos, sem nenhuma justificativa. Ainda hoje, há mais de meio século, existe o arcabouço das obras, que pode ser visto às margens da estrada logo depois da cidade de Nova Olinda. Desde então se calaram as bocas dos políticos e dos deputados da região e ninguém mais defendeu a retomada da construção do importantíssimo açude do Latão.
O problema com o abastecimento das cidades caririenses se agrava, por conseguinte, além de escassa, a água tem seu preço alto que a torna inacessível a muita gente.
O tal aquecimento global, que tanto se fala, leva o homem e animais a um maior consumo de água pelo enervante calor que assola, principalmente, o Nordeste do Brasil.
A solução plausível, apontada há décadas pelo deputado Antonio Araripe, será a construção de represas, a exemplo da Capital, Fortaleza, que conta 2.5 milhões de habitantes, mas tem seu abastecimento garantido pelos açudes Acarape, Gavião, Pacoti e Riachão que recebem perenemente reforços do monumental açude Castanhão.
Jamais se poderia imaginar que o Cariri, oásis do Ceará, terras de fontes impe-recedouras, de águas minerais da melhor qualidade, por muitos anos, levadas em caminhões e nos trens para outras cidades, chegasse a ser um alto consumidor de águas minerais trazidas de outras regiões.
As fontes dos pés de serra estão exauridas, a pouca água que brota já não tem o mesmo volume de antes, assegura o geógrafo Iarley Brito. A fonte da Batateira, um das maiores do município do Crato, no decorrer do século passado, teve sua vazão reduzida em 63%, percentual aplicado a todas as outras, de menor intensidade, nos municípios que circundam os pés de serra do Araripe.
Hoje, o que fazem os deputados federais, ditos da região, Arnon Bezerra e Manoel Salviano para superar esse problema, vendo o Cariri morrer de sede diante de todo um potencial hídrico pluvial correr rio abaixo?
O deputado Antonio Araripe destacou-se em todo o país como "o deputado da seca" pela sua persistente luta querendo a construção de milhares de açudes no Nordeste. De seu trabalho com outros parlamentares nordestinos, resultaram, os açudes Orós no rio Jaguaribe, no Cariri o Umari no Crato, Quixabinha em Mauriti, Atalho em Brejo Santo, Poço de Pedras em Campos Sales, Barreiras e Cajazeiras.
O agricultor aposentado Antonio Leodoro lamenta o descaso, vendo o vale do Carius, de terras férteis e proveitosas, secas por longos perídos do ano, enquanto se houvesse o açúde, tudo seria verde e produtivo. Mas, acrescenta, na época, por volta de 1950, correu um "abaixo assinado" de fazendeiros-coronéis de Santana do Cariri, que teriam suas terras cobertas pela bacia do açúde pedindo a paralização das obras, movimento que foi apoiado por muitos políticos que precisavam dos votos desses fazendeiros. O açúde do Latão seria muito grande e acumularia água para irrigar quilometros e mais quilometros de terras da melhor qualidade, área cem vezes maior do que seria coberta pelas águas do açúde, acrescenta

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